Brasil elimina transmissão vertical do HIV: farmacêuticos ganham protagonismo na prevenção
País comemora marco da OMS com queda nas mortes por AIDS e avanços na prevenção combinadas. Farmacêuticos podem prescrever PrEP e PEP e reforçar o acesso aos tratamentos
O Ministério da Saúde anunciou no Dia Mundial de Luta contra a AIDS (1º de dezembro) que o Brasil eliminou a transmissão vertical do HIV (da mãe para o bebê) como problema de saúde pública.
O boletim epidemiológico mais recente aponta queda de 13% no número de mortes por AIDS entre 2023 e 2024, totalizando 9,1 mil óbitos – uma marca menor em 32 anos. Segundo o relatório, o país manteve a taxa de transmissão vertical abaixo de 2%, com incidência inferior a 0,5 caso por mil nascidos vivos, além de atingir cobertura superior a 95% em pré-natal, testagem e tratamento das gestantes com HIV. Esses dados atendem integralmente aos critérios da OMS para eliminação vertical e refletem o amplo acesso aos tratamentos modernos pelo SUS.
Prevenção combinada e PrEP/PEP
Os avanços também refletem a estratégia de prevenção combinada aplicada no país, que reúne preservativos, testes ampliados e novas ferramentas como PrEP e PEP. Desde 2023, o número de usuários de PrEP no SUS cresceu mais de 150%, alcançando cerca de 140 mil pessoas. Esse aumento fortaleceu a detecção precoce de casos e contribuiu para a redução de novas infecções, especialmente entre jovens. Além disso, o SUS mantém oferta gratuita de antirretrovirais de alta eficácia em dose única diária (combinação lamivudina+dolutegravir), estratégia que favorece a adesão ao tratamento.
Farmacêuticos na linha de frente
Nesse cenário, os farmacêuticos ganharam papel estratégico na prevenção do HIV. Desde 2022, as portarias do Ministério da Saúde habilitam esses profissionais a especificar PrEP e PEP. Em 2024, o ministério consolida essas orientações em um elaborado de documentos de referência para apoiar a atuação de farmacêuticos (e enfermeiros) na prescrição das profilaxias contra o HIV no SUS.
Farmacêuticos capacitados podem avaliar riscos, solicitar exames e orientar pacientes no ciclo completo da profilaxia, além de prescrever e acompanhar o uso de medicamentos preventivos. Essa atuação multiprofissional ajuda a agilizar o início das profilaxias, reduzir filas de espera e ampliar o acesso e a adesão aos tratamentos. Um exemplo desse avanço é que, no Distrito Federal, 10% das prescrições de PEP já são feitas por farmacêuticos, acima da média nacional de 6%.
Com cerca de 1 milhão de brasileiros vivendo com HIV, o envolvimento ampliado dos farmacêuticos reforça a meta global 95‑95‑95. O país já alcançou duas dessas metas (diagnóstico e tratamento) e se aproxima de atingir a supressão viral em 95% dos pacientes em terapia. A ampliação do acesso à PrEP e PEP por meio de farmácias comunitárias e serviços de saúde deve sustentar o ritmo de redução das infecções e fortalecer ainda mais a resposta brasileira à epidemia.