Estudo aponta disparidades na prescrição de antibióticos para crianças internadas com pneumonia
Pesquisadores identificam maior uso de antibióticos em pacientes de minorias étnicas e de áreas com menor condição socioeconômica

Crianças de minorias raciais e de bairros em piores condições socioeconômicas têm recebido mais antibióticos durante internações por pneumonia do que crianças brancas não latinas, segundo dados apresentados no congresso Pediatric Hospital Medicine (PHM) 2025. A análise incluiu 49.332 pacientes, de três meses a 18 anos, internados em 43 hospitais norte-americanos entre 2022 e 2024.
O levantamento mostrou que 81% das crianças receberam algum antibiótico, sendo 48% de amplo espectro e 75% por via intravenosa. Crianças negras não latinas (83%) e asiáticas (86%) apresentaram maior probabilidade de receber antibióticos em comparação a crianças brancas não latinas (80%). Já as crianças latinas tiveram maior chance de receber antibióticos de amplo espectro (52% vs. 46%).
Outro fator analisado foi o Índice de Oportunidade na Infância (COI, na sigla em inglês), que considera aspectos como escolaridade, condições ambientais e renda. Crianças de áreas com menor índice tiveram mais probabilidade de receber antibióticos e, especialmente, os de amplo espectro, em relação às que viviam em regiões com melhores condições de vida.
Segundo a Dra. Jillian Cotter, do Children’s Hospital Colorado e autora principal do estudo, as disparidades chamam atenção por apresentarem direção oposta à observada em pesquisas ambulatoriais, nas quais o uso excessivo costuma ser maior em crianças brancas de bairros com mais recursos. “É possível que fatores sistêmicos e preconceitos implícitos dos médicos influenciem a tomada de decisão em ambiente hospitalar, onde não há vínculo prévio com o paciente e a gravidade do quadro é maior”, afirmou.
Especialistas destacam que as diferenças encontradas podem estar associadas a barreiras linguísticas, culturais e de acesso à saúde. Para o Dr. Tim Joos, pediatra do sistema Neighborcare Health em Seattle, médicos podem sentir-se menos seguros no acompanhamento de pacientes de minorias e, diante da incerteza, optar por prescrever mais antibióticos do que o necessário.
Os autores ressaltam que os resultados não podem ser generalizados para todos os hospitais pediátricos, já que variáveis de confusão e limitações metodológicas, como o uso do código postal para definir o COI, podem ter influenciado os achados. Ainda assim, a pesquisa reforça a necessidade de reflexão sobre vieses inconscientes na prática clínica e sobre como eles podem impactar a segurança e a equidade no tratamento de crianças.